Moacir Beggo
Eleito Vigário Provincial no último Capítulo Provincial da Província
Franciscana da Imaculada Conceição, em janeiro último, Frei Evaristo
Spengler nem bem acabou de se instalar e ter traçado uma agenda de
trabalho com o novo Governo Provincial e já terá de assumir uma nova
missão na Igreja: Ele foi nomeado pelo Papa Francisco, nesta
quarta-feira, 1º de junho, bispo da Prelazia de Marajó, no Pará. Sua
ordenação episcopal assim como sua posse ainda não foram definidas.
Natural de Gaspar (SC), onde nasceu no bairro de Pocinho no dia 29 de
março de 1959, Frei Evaristo vestiu o hábito franciscano quando
ingressou no Noviciado de Rodeio, em Santa Catarina, no dia 20 de
janeiro de 1977. No dia 2 de agosto de 1982 fez a profissão solene na
Ordem dos Frades Menores e foi ordenado presbítero no dia 19 de maio de
1984.
Aos 57 anos, Frei Evaristo tem pela frente o maior desafio de sua
vida religiosa, embora isso não seja novidade para ele, pois até hoje
suas experiências pastorais estiveram concentradas em duas regiões de
fortes desigualdades e fraturas sociais: a Baixada Fluminense e a Missão
de Angola (África), durante e no pós-guerra.
Frei Evaristo vai suceder a Dom Frei José Luiz Azcona, religioso
missionário da Ordem dos Agostinianos Recoletos e bispo prelado do
Marajó desde 1987, que devido à idade (76 anos) teve sua renúncia ao
governo pastoral da Prelazia aceita pelo Papa Francisco, conforme prevê o
Direito Canônico.
Dom Frei José Luiz está há 30 anos em Marajó e é mundialmente
reconhecido pela luta contra a exploração de menores, combate a
prostituição, a exploração ambiental e a corrupção no interior do Pará. O
prelado também é notoriamente um dos membros do episcopado no Brasil
mais envolvidos com o Movimento da Renovação Carismática Católica e as
Novas Comunidades.
A Prelazia de Marajó foi erigida a 14 de abril de 1928 pela bula Romanus Pontifex
do Papa Pio XI, com território desmembrado da Arquidiocese de Belém do
Pará. Segundo o infográfico (veja abaixo) do portal A12, a Prelazia
conta com uma população aproximada de 300.000 habitantes, com 88,5% de
católicos. A maior população está nas paróquias de Breves, com cerca de
100.000 habitantes. O território da prelazia é de 86.477,12 km²,
organizado em dez paróquias, abrangendo os seguintes municípios: Soure –
Paróquia Menino Deus (Sé prelatícia), Breves – Paróquias de Sant’ana,
São José Operário e Santa Terezinha do Menino Jesus, Afuá – Paróquia
Nossa Senhora da Conceição, Chaves – Paróquia Santo Antônio, Anajás –
Paróquia Menino Deus, Portel – Paróquia Nossa Senhora da Luz, Melgaço –
Paróquia São Miguel Arcanjo e Bagre – Paróquia Santa Maria, Salvaterra –
Paróquia Nossa Senhora da Conceição.
No ano passado, em entrevista ao site da TV Aparecida, a produtora
Nazaré Soares, que há 8 anos é redatora-chefe do departamento de
jornalismo na na TV Aparecida, falou sobre o projeto “Desafios da Igreja: Ilha de Marajó”,
onde abordou não apenas as ameaças de morte que Dom Luiz Azcona da
Prelazia de Marajó, como também, as denúncias de exploração infantil e o
trabalho feito pela Igreja na região. Dizia ela: “A comunidade tem medo
de que Dom Azcona se aposente, porque ele é o juiz, ele é o delegado,
ele é o professor, ele é o pastor e ele é o pai, então, ele significa
muito para aquele povo. O medo deles é que o próximo bispo não os
proteja. Lá, eles recorrem a Dom Azcona e ele tenta ajudar, não só na
parte material, ele toca o coração das pessoas. Ele é o que o Papa
Francisco pede, que a Igreja sirva as pessoas, e ele serve aquelas
pessoas. Essa inquietação é da comunidade, é nossa e é também da Igreja.
Dom Azcona está lá há 30 anos e dá a vida pelo povo”. Segundo Nazaré, a
Igreja ali é fundamental, pois ela faz um trabalho de conscientização.
“Entretanto, a Igreja é uma gota no oceano, pois é um desafio muito
grande. Você consegue imaginar 20 padres para um território do tamanho
de Portugal?”, questionava.
O MISSIONÁRIO FREI EVARISTO
Após ser ordenado em 1984, Frei Evaristo foi transferido para Duque
de Caxias, no bairro Campos Elíseos, como Vigário Paroquial e
responsável pela equipe bíblica. Nesse tempo nasceu o projeto “Luar de
Dança”, iniciativa que surgiu em 1990 com Frei Evaristo, na igreja Nossa
Senhora de Santana. O projeto começou com 30 alunos e em 2013 tinha
1.200 crianças.
Nesse tempo, Frei Evaristo também participou do Fórum permanente contra a violência(1988-1991).
Nesta mesma cidade, em 17 de janeiro de 1992, foi transferido pela
Província Franciscana para a Fraternidade de Imbariê, uma casa de
formação inclusiva, onde foi vigário e vice-mestre dos frades professos
temporários. Seu trabalho pastoral na Baixada Fluminense continuou em 10
de janeiro de 1995, quando passou a residir na vizinha Nilópolis como
Vigário Paroquial e animador da Equipe Bíblica Urbana. De 30 de março de
1996 a 21 de janeiro de 1998 se dedicou aos estudos bíblicos em
Jerusalém. No retorno ao Brasil, passou a residir no Convento Santo
Antônio e continuou os estudos na PUC-Rio.
Frei Evaristo com as crianças na última festa de São Pedro em Gaspar |
Frei Evaristo dizia no ano passado que seu sonho era voltar para a
Missão de Angola, onde ficou por uma década. Essa experiência
missionária começou no dia 31 de maio de 2001. “Quando cheguei à Missão,
em maio de 2001, ainda era tempo de guerra. Malange, cidade do Interior
de Angola, sofria com os ataques e tinha uma série de restrições por
parte da ONU, inclusive de horários, nos locais onde se podia passar.
Não podíamos ir às aldeias fora do horário das 9 até às 17 horas. Em
outras áreas nem era permitido o acesso. A guerra terminou em abril de
2002. Foi quando descobrimos o território onde estava a nossa Missão. Da
sede, em Katepa (Malange), até o final, a distância é de 450
quilômetros. Em 30 anos de guerra, as estradas de terra desapareceram
por falta de manutenção, assim como as pontes foram destruídas enquanto o
governo perseguia a Unita ou vice-versa. O cenário era de muita fome
nas aldeias. O povo plantava, mas nunca chegava a colher porque tinha de
fugir devido aos ataques. A plantação nem chegava a ser colhida. Isso
causava muita fome e insegurança. Mesmo em termos de evangelização, não
se podia ter muita coisa organizada. Só com o fim da guerra é que se
começou a estruturar um pouco a parte pastoral através dos catequistas
das aldeias. Aliás, a fé do povo foi alimentada neste período pelos
catequistas, mesmo sem informações, sem material de liturgia, sem
material de catequese. Havia um grupo muito grande que esperava, no
final da guerra, ser batizado, fazer a primeira comunhão, receber a
Eucaristia. O papel de um catequista, nas aldeias, é fazer a oração da
manhã com o povo, dar a catequese, fazer o culto dominical. É ele que
mantém a vida cristã na comunidade. Quando os missionários chegam,
celebram a Eucaristia e ministram os sacramentos”, disse em entrevista
ao site Franciscanos. De 2003 a 2006, Frei Evaristo presidiu a Fundação
Imaculada Mãe de Deus de Angola. Nessa época, de 2005 a 2010, participou
de um projeto da ONU de Reconstrução de Escolas e uma Biblioteca.
Quatro escolas foram criadas, abrindo 12 novas salas e várias salas
reformadas.
Três anos depois, no dia 25 de setembro de 2004, retornou ao Brasil
para ser submetido a uma delicada cirurgia na coluna. Recuperado,
retornou para a Missão e foi eleito no dia 20 de dezembro de 2006
Conselheiro da Fundação Imaculada Mãe de Deus. Em 2009, Frei Evaristo
celebrou o seu jubileu de 25 anos de sacerdócio em Gaspar, com a
comunidade e familiares. Nesse dia, dizia que retornava a Gaspar para
comemorar as bodas de prata de sacerdócio com 27 malárias no corpo, mas
com mais luz nos olhos.
Em janeiro de 2010 encerrava essa etapa missionária e retornava para a
conhecida Baixada Fluminense, na mesma Duque de Caxias, Imbariê, como
Vigário Paroquial. Ali continuou até 2012 quando o Capítulo Provincial o
elegeu Definidor e o manteve como coordenador da Fraternidade de
Imbariê. Em 2013 também acumulou a função de vice-mestre dos frades de
profissão temporária do tempo de Teologia.
Conhecido pelo seu trabalho de pacificação, Frei Evaristo voltou a
trabalhar pela paz como membro do Fórum “Grita Baixada contra a
Violência” (2011 a 2015).
Em 2015, Frei Evaristo foi convidado por Frei Germano Guesser para
ser o pregador da Festa de São Pedro Apóstolo de Gaspar. Depois de 42
anos, desde o ingresso no Seminário, voltava a participar da festa em
sua cidade natal.
No Capítulo Provincial de 2016, ele foi eleito Vigário Provincial e passou a acumular a função de Secretário da Evangelização.
Soure. O centro da cidade, onde as bicicletas rivalizam com os búfalos como meio de transporte |
A GRANDE ILHA DE MARAJÓ
Segundo o Guia de Viagem UOL, Marajó é a maior ilha fluviomarinha do
mundo possui 16 municípios. Está localizada a oeste da foz do rio
Amazonas e a leste da Baía do Guajará, a três horas de barco de Belém.
Numa região repleta de igarapés e rios, pouco se consegue fazer por
estradas, principalmente porque chove demasiadamente de janeiro a maio,
quando boa parte da ilha fica alagada. Dessa forma, a capital Soure e
Salvaterra, separadas pelo rio Paracauari, são os municípios que se
beneficiam por estarem próximos de Belém.
Distante 70 km quilômetros de Soure, fica Cachoeira do Arari, e
também o local do Museu Histórico do Marajó, que possui peças
arqueológicas encontradas pelo padre italiano Giovanni Gallo, criador da
instituição. Segundo estudos, a Ilha de Marajó foi habitada por índios
bem avançados, com cultura comparada à pré-colombiana. Mas teriam
desaparecido antes da chegada dos portugueses em Joanes, no município de
Salvaterra.
Além da vegetação e belas praias, Marajó é conhecida por possuir o
maior rebanho de búfalos no Brasil, com cerca de 700 mil cabeças, cerca
de três vezes a população dos 16 municípios. O artesanato, as comidas e a
cultura refletem um pouco o costume do peão local, que habita as
grandes fazendas da região. Comidas como o Frito do Vaqueiro e o Filé à
Marajoara levam a carne do animal, que tem menos colesterol do que a
bovina. O artesanato de couro também é bastante forte na região.
A equipe de reportagem da TV Aparecida visitou as cidades paraenses de Portel e Melgaço. O infográfico a seguir mostra dados e estatísticas que dão um panorama geral dos dois municípios Portel e Melgaço.
As informações são extraídas do Atlas do Desenvolvimento Humano,
Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, Instituto de Pesquisa
Econômica Aplicada e Fundação João Pinheiro.
Fonte: Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil.
Marcadores
Notícias